- Jan 21, 2025
O propósito é um “Quem” não um “Quê”
- José Miguel Sousa
Se existe uma questão que me colocam com frequência no momento de definir o caminho a seguir é como encontrar o propósito. Este assunto parece estar a ganhar importância nos últimos anos, especialmente nas pessoas que procuram dar um significado à sua vida e dispor do seu tempo para realizar algo que seja realmente importante.
Num contexto em que parece estarmos a perder a corrida, correndo apenas atrás do que são obrigações e responsabilidades, sobra pouco tempo para refletir sobre o que realmente nos move e dá sentido à existência. Acredito que esta não será uma condição dos tempos atuais, embora uma consciência crescente coloque esta questão entre aquelas que mais nos acompanham no dia-a-dia.
Como entre tantas outros assuntos na vida, é a qualidade da pergunta e não da resposta que determina o resultado. Uma grande maioria das pessoas com quem trabalho procura responder a “qual é o meu propósito” na expectativa de entender aquilo que gostariam de fazer para alcançar níveis crescentes de realização.
Diz-me a experiência, pessoal e das pessoas com que trabalho, que poucos ou nenhuns resultados significativos resultam desta procura. Na verdade, é comum que conduza à frustração pois, por mais esforços que façamos, esse propósito teima em não aparecer, ainda que em alguns momentos pareça que estamos próximos de o encontrar.
A razão para esta dificuldade em obter a resposta que procuramos é justamente que o propósito não é um “Quê” mas sim um “Quem”. Para falar de propósito teremos necessariamente de falar de serviço, de uma contribuição com que assinamos as nossas ações no mundo. E esta é a fonte onde encontraremos o nosso sentido de realização.
Aprendemos que quando estamos bem, quando sentimos que a vida conspira a nosso favor, estamos mais abertos e disponíveis para as outras pessoas. Estando as nossas necessidades realizadas, sejam estas materiais, emocionais ou espirituais, o nosso impulso é partilhar este estado com o mundo. Contudo, o que pensamos ser a causa desta nossa atitude é, na verdade, a sua consequência. É o darmos que alimenta o que estamos a receber nesse momento.
Esse propósito que tanto procuramos é apenas o espaço para podermos dar aquilo que fomos recebendo ou construindo ao longo da nossa existência. Cada experiência que reunimos ao longo da vida trouxe consigo uma oportunidade singular para compreender outras pessoas que partilham esse mesmo estado que conhecemos.
Em primeiro lugar, esta vivência na primeira pessoa possibilitou desenvolver uma ligação emocional muito forte que dificilmente conseguiremos ignorar quando estamos perante aquela pessoa que está perante uma situação idêntica. Através do que poderemos chamar empatia, conectamos-nos de forma imediata aos seus desejos, compreendemos os seus desafios e despertamos um sentido de ação para ajudar o próximo.
Quando pensamos “já lá estive”, “sei como é”, acedemos à nossa memória emocional e essa impele-nos a agir, a dar o nosso contributo que mais não é do que um desejo de servir essa pessoa com base no que guardamos dentro de nós. E quando o fazemos, recebemos algo de grande valor pois estamos a dar significado aquilo que vivemos.
Em particular as experiências que guardamos como as mais difíceis, por vezes dolorosas, são aquelas para as quais procuramos um significado e, por esse motivo, quando encontramos uma oportunidade de criar algo de positivo com elas, encontramos a paz que interiormente procurávamos. Ao fazê-lo estamos também a reconhecer a força que nos permitiu desenvolver em nós e que agora poderemos colocar ao serviço do mundo.
É neste(s) “Quem” que encontraremos o nosso propósito pois constitui uma motivação inabalável que nos acompanhará por toda a vida. Ao contrário do que poderemos sentir em relação a outras pessoas, com aquelas que vivem o que passamos não conseguiremos ficar indiferentes. Quando o reconhecemos e aceitámos, deixaremos de ter necessidade de procurar motivação para agir, ultrapassamos as dúvidas e superamos os medos.
Este é um processo gradual de consciência que, na medida em que reconhecemos a força que desenvolvemos através dessas experiências, conduzirão a crescentes níveis de realização. As várias peças de um puzzle que ainda não tínhamos resolvido internamente, começam gradualmente a revelar uma imagem maior do que somos.
Se agora dedico a minha energia a servir Líderes e Empreendedores, com ou sem esse título, é porque estive no lugar daqueles que querem contribuir para um mundo melhor, com mais alegria, amor e prosperidade. Foi nesse caminho que encontrei vários obstáculos, dificuldades, frustrações aos quais nunca poderei ser indiferente.
As dores destas pessoas são as minhas e quando me cruzo com aqueles que estão em situações semelhantes, sou alimentado de uma energia da qual ainda não conheci limites.
A minha voz é a de todas estas pessoas e está muito para além do que individualmente poderia alcançar. A vida deixa de ser apenas sobre nós, enquanto indivíduos isolados, para se transformar em energia que realiza uma nova visão do mundo.
Este “Quem” já está dentro de cada um de nós, guardado no que foram as nossas experiências e empoderado pela força que nos permitiram desenvolver.